“Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois
velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam
isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros
”. (Hebreus 13.17) De John Wesley em 18/03/1785.
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1. Pouquíssimos, não apenas entre os
cristãos nominais, mas entre verdadeiros homens religiosos, são
aqueles que têm alguma clara concepção desta importante doutrina, que é
agora entregue pelo Apóstolo.
Muito raramente pensam sobre ela, e dificilmente sabem que existe tal
orientação na Bíblia. E a maior parte daqueles que a conhecem, e
imaginam que a seguem, não a entendem, mas se inclinam, quer para a
direita, quer para a esquerda, de um extremo ao outro. É bem sabido que
um grande número de católicos romanos, em geral, apóia esta
admoestação. Muitos deles acreditam que uma fé é devida às doutrinas
entregues por aqueles que governam sobre eles, e que a obediência
inquestionável deve ser prestada a qualquer ordem porventura deles
emanadas. E não muito menos têm insistido diversos homens eminentes da
Igreja da Inglaterra. Embora seja verdade que a maioria dos
protestantes está pronta para cair no extremo oposto, não concedendo
nenhuma autoridade aos seus pastores, mas fazendo deles criaturas e
servos de suas congregações. E muitos existem em nossa própria Igreja
que concordam com eles nisto, supondo que os pastores sejam
completamente dependentes do povo, que em seu julgamento, tem o direito
de dirigir, assim como de escolher seus ministros. |
2. Mas não é possível encontrar um
meio termo entre esses dois extremos? Existe alguma necessidade de
cairmos em um desses extremos? Se deixarmos as leis humanas de lado,
fora da discussão, e simplesmente atentarmos para os oráculos de Deus,
poderemos certamente descobrir um meio caminho nesta importante
questão. Com este objetivo, vamos cuidadosamente examinar as palavras
do Apóstolo acima citadas. Consideraremos: |
I. Quem são as pessoas mencionadas no texto como aqueles que “governam sobre” nós?
II. Quem são aqueles a quem o Apóstolo dirige a admoestação de “obedecerem e submeterem-se” aos que “governam sobre” eles?
III. Qual é o significado desta advertência? Em que sentido devem
“obedecer e submeter-se”. Então, me esforçarei para fazer uma aplicação
adequada do todo. |
I
1. Em primeiro lugar, vamos considerar quem são as pessoas mencionadas no texto: “Aqueles que governam sobre vós?”
Eu não imagino que as palavras do Apóstolo estejam traduzidas de
maneira apropriada, porque esta tradução torna a sentença pouco melhor
do que uma tautologia. Se eles “governam sobre vós”, vós sois certamente
governados por eles; de modo que de acordo com esta tradução, vós sois
apenas ordenados a fazerem o que já estais fazendo, a obedecerdes
aqueles aos quais já obedeceis. Mas existe um outro significado da
palavra grega que parece muito mais adequado ao contexto da passagem,
no sentido de guiar, assim como governar. E, assim, parece que deve ser
traduzida desta forma. A admoestação, então, quando aplicada a nossos
guias espirituais, é clara e pertinente. |
2. Esta interpretação parece ser
confirmada pelo verso sétimo, que deixa claro este significado, ao
afirmar, “Lembrem-se daqueles governam sobre vós, que vos pregaram a
Palavra de Deus”. O Apóstolo aqui mostra, através da última cláusula da
sentença, a quem ele se refere na primeira. Aqueles que estavam “sobre
eles” eram as mesmas pessoas “que vos pregaram a Palavra de Deus”, ou
seja, os seus pastores, aqueles que guiaram e alimentaram esta parte do
rebanho de Cristo. |
3. Mas, quem deve designar tais
guias? E o que supostamente devem fazer, com o objetivo de terem o
direito à obediência que aqui está prescrita?
Volumes e mais volumes têm sido escritos sobre esta questão
complicada: Por quem esses guias de almas devem ser designados? Eu não
pretendo aqui entrar, de forma alguma, na discussão sobre o governo da
igreja, nem discutir se é vantajoso ou prejudicial ao interesse da
religião verdadeira que a igreja e o estado possam se misturar, como
tem sido, desde o tempo de Constantino, em todas as partes do Império
Romano, onde o Cristianismo tem sido recebido. Deixando de lado todos
esses pontos (que podem ocupar suficientemente o tempo dos homens que
não têm o que fazer), pela expressão “daqueles que vos guiam”, quero
dizer aqueles que o fazem, se não, mediante vossa escolha, pelo menos,
com vosso consentimento, aqueles que prontamente aceitais como vossos
guias no caminho para o céu. |
4. Mas o que devem eles supostamente fazer, com o objetivo de induzir-vos à obediência aqui prescrita?
Eles devem seguir à frente do rebanho (como é a maneira dos
pastores orientais até os dias de hoje), e guiá-los em todos os
caminhos da verdade e santidade; devem “nutri-los com as palavras da
vida eterna”; alimentá-los com “o puro leite da palavra”, aplicando-a
continuamente, “para doutrinar”, ensinando todas as doutrinas
essenciais nela contidas; “para reprovar”, advertindo-os, se eles
abandonam o caminho, se para a direita ou para a esquerda; “para
corrigir”, mostrando-lhes como emendarem o que está errado, e os
guiando de volta ao caminho da paz. Para “instruí-los na justiça”,
ensinando-os na santidade interior e exterior, “até que todos cheguemos à
perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
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5. Eles supostamente devem “velar
por vossas almas, como quem deve prestar contas”. “Como quem deve
prestar contas!”. Quão inexprimivelmente solenes e terríveis são estas
palavras! Possa Deus escrevê-las no coração de cada um desses guias de
almas!
“Eles velam” pelo rebanho de Cristo, acordados, enquanto outros
dormem; as almas daqueles que Ele comprou com um preço, adquiridas com
seu próprio sangue. Eles as têm, em seu coração, dia e noite, sem
qualquer consideração por seu próprio sono ou alimento, antes dando
preferência ao descanso e alimentação do rebanho. Mesmo enquanto
dormem, seus corações estão acordados, cheios de preocupação por seus
amados filhos. “Eles vigiam”, com profundo determinação, com seriedade
ininterrupta, com incansável cuidado, paciência e diligência, como se
estivessem prontos a prestar contas de cada alma em particular a Ele que
está à porta – ao Juiz de vivos e mortos. |
II
1. Em segundo lugar, vamos considerar quem são
aqueles aos quais o Apóstolo adverte que devem obedecer àqueles que os
governam. E, com o objetivo de determinar isto com certeza e clareza,
nós não deveremos apelar para instituições humanas, mas, simplesmente
(como ao responder a questão precedente), apelar para aquela decisão
que encontramos nos oráculos de Deus. Na verdade, nós dificilmente
temos oportunidade de seguir um passo além do próprio texto. Apenas
pode ser apropriado, primeiro, remover do caminho algumas opiniões
populares que têm sido tomadas por certas em quase todos os lugares,
mas que não podem, de modo algum, serem provadas. |
2. Usualmente se supõe, primeiro,
que o Apóstolo está aqui admoestando os paroquianos a obedecerem e se
submeterem ao ministro de sua paróquia. Mas pode alguém encontrar a
menor sombra de prova disto na Escritura Sagrada? Onde está escrito que
nós temos o dever sagrado de obedecer a algum ministro, porque nós
vivemos naquela área que é considerada como sua paróquia. “Sim”, vós
dizeis, “nós temos o dever sagrado de obedecer a todas as ordenanças do
homem, por causa do Senhor”. Verdade, em todas as coisas indiferente;
mas isto não é assim; está muito longe disto. Está longe de ser uma
coisa indiferente para mim, que sou o guia de minha alma. Eu não me
atrevo a tomar um lobo por meu pastor; alguém que não tem mais do que
as vestes de uma ovelha; que é um praguejador comum, um bêbado
declarado, um notório homem que não respeita o dia do Senhor. E tal
(quanto maior é a vergonha, maior a pena!) são muitos párocos nos dias
de hoje. |
3. “Mas não deveis ser membros
daquela congregação a qual vossos pais pertenceram?” Eu não entendo que
eu seja; eu não conheço Escritura que me obrigue a isto. Eu devo toda a
deferência à autoridade de meus pais, e de boa vontade os obedeço em
todas as coisas lícitas. Mas não é lícito chamá-los de Rabis, ou seja,
acreditar ou obedecer-lhes irrestritamente. Todos devem prestar contas
de si mesmo a Deus. Portanto, todo homem deve julgar, por si mesmo,
especialmente em um ponto de tão profunda importância como este – a
escolha de um guia para sua alma. |
4. Mas nós podemos trazer este
assunto para um debate resumido, recorrendo às mesmas palavras do
texto. Aqueles que têm voluntariamente se ligado a tais pastores, como
descritos nessa passagem, que, de fato, “vigiam suas almas, como se
delas tivessem que prestar contas”, “nutrindo-os com as palavras da
vida eterna”, alimentando-os com “o puro leite da palavra”, e
constantemente aplicando-a “para doutrinar, repreender, corrigir, e
instruir na justiça”, a todos que encontraram e escolheram tais guias
com este caráter, espírito e comportamento, são indubitavelmente
admoestados pelo Apóstolo a “obedecerem e submeterem-se” a seus
pastores. |
III
1. Mas qual é o significado desta orientação? É
o que resta a ser considerado. Em que sentido, e com qual amplitude, o
Apóstolo os adverte a “obedecerem e se submeterem” aos seus guias
espirituais?
Se nós atentarmos para o significado apropriado das duas
palavras aqui usadas pelo Apóstolo, nós podemos observar que o primeiro
delas peiqesqe, (de peiqw, persuadir) refere-se ao entendimento; a última, upeikete
à vontade e ao comportamento exterior. Para começar com o primeiro.
Que influência nossos guias espirituais devem ter sobre nosso
entendimento! Nós não nos atrevemos a chamar nossos pais espirituais de
Rabi, mais do que aos “pais de nossa carne”. Nós não nos atrevemos a
conceder inquestionável fidelidade aos primeiros, mais do que aos
segundos. Neste sentido, “um só é o nosso Mestre, o que está no céu”.
Mas, qualquer que seja a submissão, mesmo de nosso entendimento, em
resumo, nós podemos, mais do que isto, nós devemos lhes permitir isto. |
2. Para explicar isto um pouco mais,
São Tiago usa a palavra que está proximamente associada a estas: “A
sabedoria que é do alto é, eupeiqhV, fácil de ser convencida, ou ser persuadida”.
Agora, se devemos ter e mostrar esta sabedoria para com todos os
homens, nós devemos ter isto, em um maior grau, e demonstrar isto em
toda ocasião, para com aqueles que “vigiam nossas almas”. Com respeito a
esses, acima de todos os outros homens, nós devemos ser “fáceis de
sermos tratados”, facilmente convencidos de alguma verdade, e
facilmente persuadidos a alguma coisa que não é pecaminosa. |
3. Uma palavra de proximamente a mesma importância que esta, é freqüentemente usada por Paulo, ou seja, epieikhV
Em nossa tradução é mais de uma vez vertida como gentileza. Mas,
talvez, isto seja mais propriamente traduzida por (se a palavra pode
ser permitida), aquiescência, pronto para aquiescer, a desistir de
nossa própria vontade, em tudo que não é um ponto de obrigação. Este
temperamento afável, todo cristão desfruta, e mostra em seu intercurso
com todos os homens. Mas ele mostra isto de uma maneira muito peculiar,
em relação àqueles que vigiam suas almas. Os cristãos não estão
desejosos apenas de receber alguma instrução deles, de serem
convencidos de alguma coisa que não sabia antes, se sujeitar aos seus
conselhos, e estando feliz de receberem admoestação, ou reprovação; mas
estão prontos a desistirem de sua própria vontade, quando quer que
eles possam fazer isto com a consciência limpa. O que quer que eles
desejem que façam, o farão, se não for proibido na palavra de Deus. O
que quer que eles desejem que eles se refreiem, assim o farão, se
isto não estiver prescrito na palavra de Deus. Isto está inserido
naquelas palavras do Apóstolo, “sede submissos para com eles”,
sujeitai-vos a eles, desisti de vossa própria vontade. Isto é
apropriado, correto, e seu dever sagrado, se eles, de fato, vigiam
vossas almas, como se delas tivessem que dar contas. Se assim o
fizerdes, “obedecendo e submetendo-vos” a eles, eles darão conta de vós
“com alegria, e não com gemidos”, como devem do contrário fazer;
porque, embora eles estejam limpos de vosso sangue, ainda assim, “Isto
seria sem proveito para vós”; sim, um prelúdio da condenação eterna. |
4. Quão aceitável para Deus foi um
exemplo de obediência de certa forma similar a este! Tendes um relato
amplo e pessoal dele, no capítulo trinta e cinco de Jeremias. “Palavra
que do SENHOR veio a Jeremias, nos dias de Jeoaquim, filho de Josias,
rei de Judá, dizendo: Vai à casa dos recabitas, fala com eles, leva-os à
Casa do SENHOR, a uma das câmaras, e dá-lhes vinho a beber. Então,
tomei a Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habazinias, aos irmãos, e
a todos os filhos dele, e a toda a casa dos recabitas; e os levei à
Casa do SENHOR, à câmara dos filhos de Hanã, filho de Jigdalias, homem
de Deus, que está junto à câmara dos príncipes e sobre a de Maaséias,
filho de Salum, guarda do vestíbulo; e pus diante dos filhos da casa
dos recabitas taças cheias de vinho e copos e lhes disse: Bebei vinho.
Mas eles disseram: Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de
Recabe, nosso pai, nos ordenou: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós
nem vossos filhos; não edificareis casa, não fareis sementeiras, não
plantareis, nem possuireis vinha alguma; mas habitareis em tendas todos
os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a terra em que viveis
peregrinando”. Nós não conhecemos qualquer motivo específico que
levou Jonadabe prescrever este encargo à sua posteridade. Mas como não
era pecaminoso, eles deram este grande exemplo de gratidão ao seu
grande benfeitor. E quão prazeroso foi isto ao Pai de seus espíritos
nos é exposto nas palavras que se seguem: “À casa dos recabitas disse
Jeremias: Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Pois que
obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, e guardastes todos os
seus preceitos, e tudo fizestes segundo vos ordenou, por isso, assim
diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Nunca faltará homem a
Jonadabe, filho de Recabe, que esteja na minha presença”. |
5. Agora é certo que cristãos devem
gratidão e obediência tão completa àqueles que vigiam suas almas,
quanto a casa dos Recabitas deveu sempre a Jonadabe, o filho de Recabe.
E nós não podemos duvidar, que Deus tanto se agrada com nossa
obediência a nossos pastores, quanto se agradou com a obediência dos
Recabitas a Jonadabe. Se Deus estava, então, tão satisfeito com a
gratidão e obediência deste povo a seus benfeitores temporais, nós não
temos todas as razões para acreditar que é satisfatório, assim como
prazeroso, com a gratidão e obediência dos cristãos àqueles que derivam
bênçãos muito maiores para eles do que as que Jonadabe porventura
transmitiu à sua posteridade? |
6. Pode ser útil novamente
considerar em que circunstâncias se dá o dever dos cristãos em obedecer
e submeter-se àqueles que vigiam sobre suas almas? Agora as coisas que
eles prescrevem devem ser tanto prescritas por Deus, ou proibidas por
Deus, ou indiferentes. Nas coisas proibidas por Deus, ousamos a não
lhes obedecer porque “importa antes obedecer a Deus do que os homens”.
Nas coisas prescritas por Deus, nós não propriamente obedecemos a eles,
mas a nosso Pai comum. No entanto, se nós devemos obedecer a eles,
afinal, deve ser nas coisas indiferentes. Em resumo, é dever de todo
cristão obedecer a seu pastor espiritual, tanto fazendo ou deixando de
fazer qualquer coisa de natureza indiferente, alguma coisa que não é de
forma alguma determinada pela palavra de Deus. |
7. Mas quão pouco isto é entendido
no mundo Protestante! Pelo menos, na Inglaterra e Irlanda! Quem há,
entre aqueles que supostamente são bons cristãos, que imagine que há
tal obrigação como esta? E, ainda assim, não existe um mandamento mais
expresso quer no Antigo quer no Novo Testamento. Nenhuma palavra pode
ser mais clara e simples; não existe mandamento mais direto e positivo.
Portanto, certamente ninguém que recebeu às Escrituras, como a palavra
de Deus, pode viver quebrando habitualmente esta advertência e
pleitear inocência. Tal instância da obstinada, ou, pelo menos,
negligente desobediência, deve afligir o Espírito Santo de Deus. Isto
não pode, a não ser impedir a graça de Deus de ter seu efeito completo
sobre o coração. Não é improvável que esta mesma desobediência possa
ser uma das causas da morte de muitas almas, uma razão delas não
receberem aquelas bênçãos que buscam com algum grau de sinceridade. |
8. Resta apenas fazer uma breve aplicação ao que tem agora sido entregue.
Vós que ledes esta passagem, vós a aplicais a vós mesmos? Vós
examinais-vos, por meio disto? Vós interrompeis vosso próprio
crescimento na graça, não tanto pela desobediência obstinada a este
comando, mas muito mais por vossa desatenção a ela, não a considerando
com a importância que merece. Se for assim, defraudais a vós mesmos nas
muitas bênçãos que deveríeis desfrutar. Ou, sois de uma mente melhor ou
de um espírito mais excelente? É vossa resolução firme e vosso esforço
constante “obedecer àqueles que têm o governo sobre vós no Senhor”,
submeter-vos tão alegremente aos vossos pais espirituais, quanto é aos
vossos pais naturais? Vós perguntais: “em que eu deveria submeter-me a
eles?” A resposta já foi dada: Não nas coisas prescritas por Deus; não
nas coisas proibidas por Ele; mas nas coisas indiferentes, em tudo que
não está determinado, de uma maneira ou outra, nos oráculos de Deus. É
verdade, que isto não pode ser feito, em algumas circunstâncias, sem um
considerável grau de abnegação, quando vos aconselham a refrear alguma
coisa que é agradável à carne e sangue. E não pode ser obedecido em
outras circunstâncias, sem tomar sua cruz, sem sofrer alguma dor ou
inconveniências que não é agradável à carne e sangue. Porque aquela
declaração solene de nosso Senhor cabe bem aqui, assim como em milhares
de outras ocasiões: “A não ser que alguém que quer vir após mim, a si
mesmo se negue, e dia a dia tome a sua cruz, não poderá ser meu
discípulo”. Mas isto não irá amedrontar-vos, se resolverdes a não ser
apenas quase, mas completamente, cristão, se determinardes lutar bom
combate da fé, e agarrar-vos à vida eterna. |
9. Eu agora me refiro de uma maneira ainda mais particular a vósque desejais que eu vigie
sobre vossas almas. Vós desejais, por questão de consciência,
obedecer-me, por causa de meu Mestre? Submeter-vos a mim nas coisas
indiferentes? Coisas não determinadas na palavra de Deus, em todas as
coisas que não estão prescritas, nem ainda proibidas nas Escrituras?
Fáceis de serdes convencidos de alguma verdade, mesmo que contrária a
vossas concepções anteriores? E fáceis de serdes persuadidos a fazer ou
abster-vos de alguma coisa indiferente ao meu desejo? Vós não podeis
deixar de ver que tudo isto está claramente contido nas próprias
palavras do texto. E vós não podeis deixar de reconhecer que é
altamente razoável se emprego todo meu tempo, todo meu corpo, e todas
as minhas forças, de corpo e alma, não em buscar minha própria honra,
ou prazer; mas em promover vossa atual e eterna salvação; se eu, de
fato, “vigio sobre vossas almas como alguém que deve prestar contas
delas'. |
10. Vós, então, aceitais o meu
conselho (eu pergunto na presença de Deus e de todo o mundo) com
respeito ao vestuário? Eu divulguei este conselho há mais de trinta
anos atrás e o tenho repetido milhares de vezes, desde então. Eu tenho
aconselhado ao povo chamado de metodistas para não estar tão em
conformidade com o mundo nisto, para colocar de lado todos os
ornamentos desnecessários, para evitar todas as despesas inúteis; para
apresentar-se como padrão de modéstia a todos que estão em sua volta.
Vós acatareis este conselho? Vós todos, homens e mulheres, jovens e
idosos, ricos e pobres, colocareis de lado todos os ornamentos
desnecessários que eu pessoalmente contesto? Vós sois exemplarmente
simples em vossos vestuários e tão simples quanto os Quacres (assim
chamados) ou os Morávios? Se não, se estais ainda vos vestindo como a
maioria das pessoas de vosso próprio nível e fortuna, declarais, por
meio disto, a todo o mundo, que vós não obedecereis àqueles que estão
sobre vós no Senhor. Vós declarais, em provocação declarada a Deus e
ao homem, que vós não vos submeteis a eles. Muitos de vós carregais
vossos pecados sobre vossas testas, abertamente e na face do sol. Vós
endureceis vossos corações, contra a instrução, e contra a convicção.
Vós endureceis uns aos outros; especialmente aqueles de vós que fostes,
uma vez, convencidos, e têm agora reprimido suas convicções. Vós
encorajais uns aos outros a fechar vossos ouvidos contra a verdade, e
fechar vossos olhos contra a luz, a fim de que, por acaso, não possais
perceber que estais lutando contra Deus e contra vossas próprias almas.
Se eu fosse agora chamado para dar um relato de vós, seria “com
gemidos, e não com alegria”. E é certo que isto não seria “proveitoso a
vós”: A perda cairia sobre as vossas próprias cabeças. |
11. Eu falo tudo isto na suposição
(embora seja uma suposição que não deva ser feita), de que a Bíblia
silencia sobre este assunto; de que as Escrituras não dizem coisa
alguma, concernente ao vestuário, e deixaram isto à própria descrição
de cada um. Mas, se todos os outros textos foram silenciosos, este é
suficiente: “Sede submissos àqueles que estão sobre vós no Senhor”. Eu
deixo isto à vossas consciências, às vistas de Deus. Fosse isto apenas
em obediência a esta admoestação, não poderíeis estar limpos diante de
Deus, a menos que colocásseis de lado todos os ornamentos
desnecessários, em expressa rebeldia àquela déspota dos insensatos, a
moda. A menos que buscásseis apenas adornar-vos com as boas obras, como
homens e mulheres professando santidade. |
12. Talvez, direis: “Isto é apenas
uma pequena coisa: é uma simples ninharia”. Eu respondo: Se for, sois os
mais indesculpáveis diante de Deus e homem. O que! Ireis desobedecer a
um mandamento claro de Deus, porque é uma simples ninharia? Deus não
permita tal coisa! É uma ninharia pecar contra Deus, desprezar sua
autoridade? É isto uma pequena coisa? Mais ainda, lembrai-vos de que
não pode existir pecado pequeno, até achardes um Deus pequeno! Neste
meio tempo, estejais seguro de uma coisa: quanto mais conscientemente
obedecerdes a vossos guias espirituais, mais poderosamente Deus
aplicará a palavra que eles falam em seu nome em vosso coração! Quanto
mais plenamente, Ele regará o que é falado, com o orvalho de suas
bênçãos, e quanto mais provas tiverdes, não será apenas eles que
falarão, mas o Espírito de vosso Pai que fala por eles. | |