1.Quais os tipos de críticos?
Psicóloga: Existem
dois tipos de críticos. Aqueles que criticam por criticar e os críticos
analíticos. Os primeiros são aqueles "chatos", que sentem certo prazer
em fazer o papel do contrário, de ser aversivo. São aqueles que não veem
no objeto criticado nenhum aspecto positivo. E existem aqueles que
fazem uma análise mais profunda, mais qualitativa do objeto analisado.
Sabem apontar tanto os aspectos negativos, quanto os positivos da
questão. A boa crítica sempre agrega valor. Ambos trazem no perfil
psicológico a busca do perfeccionismo nas condutas, primeiro consigo e
depois com o mundo.
2.Porque as pessoas sentem necessidade de criticar os outros? Quem “ataca”, ataca para se defender?
Psicóloga: Existe
o ditado que diz que o ataque é a melhor defesa. A crítica pode ser um
ataque, quando ela é, na maioria das vezes, depreciativa. A necessidade
de criticar os outros sinaliza, na verdade, e no caso acima, uma reação
ao conjunto de valores que pode estar em cheque. Por outro lado, nós
aprendemos desde cedo o que é “certo” e o que é “errado” e não raramente
o usamos como critérios de julgamento, que pode ser expresso através de
uma crítica. Por exemplo: Quem fuma está se prejudicando, eu não quero fumar porque fará mal a minha saúde.
3. O que esse comportamento esconde por parte de quem critica? (insegurança, arrogância...)
Psicóloga: Quem
critica por criticar, por costume, pode estar escondendo através da
arrogância e da prepotência a sua própria insegurança, suas
falibilidades. Quando somos mais flexíveis com a imperfeição do outro,
automaticamente somos menos críticos, porque temos um olhar mais "ameno"
e "sábio", portanto, mais tolerante para o mundo e suas “falhas”.
4.Existe critica construtiva? Existe algum tipo de crítica que possa provocar mudanças no outro?
Psicóloga: Claro
que existe. E muitas vezes nós pedimos por isso. Por exemplo, quando
você está escrevendo um trabalho científico e está em dúvida quanto ao
seu conteúdo, é natural que peça a alguém mais capacitado que leia e lhe
faça uma devolutiva. O que é isso senão um pedido voluntário de
crítica. Crítica para destruir? Não, crítica para apontar os pontos
altos e baixos, no intuito de melhorar seu desempenho. E mais, pelo viés
da filosofia analítica a pressuposição do diálogo comtempla,
necessariamente, a crítica. É o saber ouvir, para saber falar.
5.O
que a critica construtiva esconde, ou seja, qual a intenção de fundo de
quem a faz? Porque quem critica quer mudar os outros?
Psicóloga: Se
partirmos do pressuposto que nem toda crítica é negativa, com intenção
de aniquilamento do objeto, a crítica construtiva é a busca da razão.
Lembrando que, muitas vezes essa “razão” pode se traduzir em um ideal a
ser perseguido, sempre, porém jamais alcançado.
6.O crítico é um polêmico? Crítica , intolerância e polência estão relacionadas?
Psicóloga: Depende
de que espécie de crítico estamos falando. O analítico, como
dissemos,está em busca da razão sobre o objeto criticado. Aquele que
critica por criticar gosta de apontar somente os erros, a falibilidade
alheia, nem sempre usa a razão como instrumento, gerando polêmicas por
causa disso. São críticas superficiais, pouco embasadas e cheias de
vieses.
7.E na auto-crítica? O mecanismo é o mesmo?
Psicóloga: Aquele
que muito critica é feroz juiz de si mesmo. Porém, se ele é um crítico
“rabugento” e intransigente ou um analítico profundo de seus atos,
depende da sua personalidade e do seu grau de desenvolvimento pessoal.
Sem querer dar nenhum aspecto religioso, mas ser tolerante, saber
perdoar e ter um olhar mais “suave” para a vida, denota um maior grau de
maturidade e desenvolvimento para quem o possui.
8.Porque geralmente quem recebe a crítica sente-se tão abalado? Tem a ver com auto-estima?
Psicóloga: Sente-se
abalado, quando não possui boa auto-estisma. A auto-estima é o juízo
que cada pessoa tem do seu próprio valor e mostra o quanto a pessoa sabe
valorizar os seus atributos e as suas qualidades. Pessoas com boa
auto-estima controlam o seu comportamento, esperam sucesso, têm
tolerância a crítica e às frustrações. Reconhecem seus pontos fortes e
fracos, adoram aprender coisas novas e têm prazer em viver.
9.Algum conselho para lidar com as críticas? ou Como se defender das críticas (ou como não ser atingido por elas)?
Psicóloga: Se
a crítica vier camuflada de ofensas pessoais, identifique o núcleo da
questão, do objeto criticado, responda e despreze o resto. Geralmente
uma resposta mais agressiva é o que a outra parte espera. Mantenha o
diálogo. Uma dica importante para quem recebe uma crítica pessoal: quem o
critica, na verdade está evidenciando aquilo que ele quer mais
esconder, suas próprias imperfeições. É uma relação projetiva onde o
outro faz de você, o próprio espelho. E mais, ninguém consegue controlar
a neurose do outro. Identifique-o e o ignore solenemente. Agora, quando
as críticas são positivas, digamos assim, só nos resta o agradecimento e
o regozijo.
Entrevista cedida à jornalista Angela Tessine - Revista Vida Natural (Fonte: blog.opsicologo.com.br)